Pouca gente imagina, mas antes de se tornar uma das bandas mais poderosas do rock mundial, o AC/DC realmente cogitou abandonar o próprio nome. Não por superstição, não por pressão da gravadora, e muito menos por causa do absurdo mito de que o nome teria “atraído azar” após a morte de Bon Scott. Nada disso. A história é muito mais profunda — e muito mais humana.
O boato de que “AC/DC dava azar” surgiu no calor do choque provocado pela morte inesperada de Bon em fevereiro de 1980. Jornalistas e fãs, tentando dar sentido ao absurdo, começaram a espalhar especulações, teorias e até histórias místicas. Mas dentro da banda, a real questão era outra: a dor, o luto e o peso emocional de continuar sem seu vocalista icônico.
A origem do nome sempre foi simples e direta. “Alternating Current / Direct Current”, como estava escrito na máquina de costura da irmã dos Young, Margaret. Ela achou que aquelas letras tinham o impacto exato do som dos irmãos: puro choque, energia bruta, faísca permanente. Nada de misticismo — só eletricidade traduzida em rock.
Mas quando Bon se foi, o nome de repente pareceu grande demais. Será que continuar como AC/DC seria desrespeitoso? Será que o público veria a banda como oportunista? Será que a própria identidade do grupo fazia sentido sem a voz que incendiava os palcos?
Essas perguntas ecoaram durante semanas dentro do estúdio, nos telefonemas silenciosos, nas reuniões tensas e nos olhares perdidos de Angus e Malcolm.
A dúvida sobre mudar o nome não era superstição — era luto.
Foi nesse momento de sombra total que uma luz improvável entrou na história: Brian Johnson. O curioso é que o próprio Bon Scott já tinha citado Brian aos colegas, elogiando sua voz rasgada e presença de palco. Quando Brian entrou para um teste, não tentou imitar Bon. Ele cantou do jeito dele, com sua potência crua, e ali ficou claro que ele não seria um substituto — seria uma nova força.
A decisão final veio de forma simples, honesta e pesada:
a melhor maneira de honrar Bon não era abandonar o nome, mas mantê-lo aceso.
E assim nasceu um dos maiores renascimentos da história do rock.
Com Brian nos vocais e com a dor ainda aberta, a banda entrou em estúdio e gravou Back in Black — um álbum inteiro dedicado a Bon Scott. As faixas não soam como luto silencioso, mas como tempestade elétrica. É a banda dizendo ao mundo, com riffs e trovões, que a morte não apaga um legado — ela o amplifica.
O resultado?
O segundo álbum mais vendido de todos os tempos.
Um monumento do rock.
Uma prova definitiva de que eletricidade e resistência correm pelo mesmo fio.
Do explosivo High Voltage ao monumental Back in Black, o AC/DC mostrou que sua essência não está apenas no nome, mas no choque que suas músicas provocam até hoje — nos palcos, nos fones de ouvido, nas gerações que continuam descobrindo o poder daquele logotipo relâmpago.
Às vezes, o maior tributo não é mudar um nome.
É continuar.
É transformar dor em energia.
É fazer o inferno tremer ainda mais forte.
O AC/DC não mudou de nome. Mudou o mundo do rock.