Marie Laveau: A Rainha do Vodu que Virou Lenda no Som do Volbeat

Por: Savage em 25 de setembro de 2025

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Antes de ser música, antes de virar símbolo pop, antes de ser transformada em personagem, Marie Laveau foi mulher — e isso, por si só, já era escandaloso demais para o século XIX.
No coração de Nova Orleans, em uma cidade pulsando entre fé, medo e superstição, nasceu aquela que o povo chamaria para sempre de Rainha do Vodu.

Marie Laveau trabalhava como cabeleireira, mas sua história nunca coube nesse título. Enquanto trançava cabelos da elite, circulava entre salões luxuosos e vielas perigosas, acumulando algo raro e incômodo: influência.
Ela misturava catolicismo com rituais africanos, ajudava ricos e pobres, aconselhava políticos, acolhia perseguidos, curava doenças e, ao mesmo tempo, inspirava rumores sombrios sobre rituais secretos.

Para uns, Marie era curandeira, Matriarca espiritual, líder respeitada.
Para outros, feiticeira, ameaça, bruxa perigosa.

E aí surge a grande questão:
Quando o poder feminino foge do controle, o que o sistema faz? Demoniza.

A história nunca soube lidar com mulheres que comandam multidões, que desafiam estruturas, que não pedem permissão.
No caso de Marie Laveau — mulher, negra, livre e influente — a resposta foi óbvia: cercá-la de misticismo e medo, transformando sua força em lenda obscura.

Da História ao Som: Quando o Volbeat Transformou Marie em Mito

Décadas depois, a banda dinamarquesa Volbeat pegou essa figura histórica e a reimaginou à sua maneira. Não como mártir, musa ou vítima — mas como força bruta, como presença sobrenatural.
A música “Marie Laveau” é quase um quadrinho de terror sonoro: riffs densos, groove arrastado e aquela estética que mistura folclore, ocultismo e adrenalina.

Não é homenagem doce.
Não é retrato fiel.
É reinvenção.

O Volbeat pega a figura já mitificada pela cultura de Nova Orleans e a empurra para um novo patamar, onde Marie vira algo maior do que vida: uma entidade que caminha entre o sagrado e o profano.

A Mulher que Não é Musa — é Ameaça

Na canção, e na memória coletiva, Marie não ocupa o lugar tradicional reservado às mulheres na história do rock.
Ela não inspira: ela domina.
Ela não embeleza: ela assombra.
Ela não enfeita: ela perturba.

 Aqui, a mulher não é musa — é força, é perigo, é sombra.

E talvez seja justamente isso que incomoda até hoje.
Porque quando uma mulher toma o controle da própria narrativa, o mundo treme.
E quando essa mulher se torna mito, o mundo tenta chamar de bruxa — quando, na verdade, ela sempre foi poder.